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Uso excessivo de analgésicos pode transformar a dor simples em crônica
Fonte: G1
Data de publicação: 24 de abril de 2012
Fotos: G1
A sociedade contemporânea e sua lógica de bem-estar relacionada ao consumo nos leva a uma vida agitada e corrida em que o tempo é uma matéria-prima cada vez mais escassa e valiosa. Nossos hábitos e nossa rotina confluem sempre para que economizemos tempo, de forma que ele sobre para outra tarefa. Ao ficarmos sobrecarregados, nosso corpo dá sinais de que algo não está caminhando como deveria, seja por stress ou qualquer outra patologia que esteja se desencadeando em nosso organismo. Esses sinais vêm em formade dores que atingem, por exemplo, a cabeça e a coluna, e levam muitas pessoas ao automedicamento.
Antiinflamatórios e analgésicos, classificados simples pelos médicos, como o ácido acetilsalicílico, a dipirona e o paracetamol são os mais consumidos. Esses remédios são facilmente comprados em qualquer farmácia brasileira, pois não requerem prescrição médica. O problema é que esses remédios têm efeito paliativo e só servem para tratar o sintoma. É o que explica o neurocirurgião e professor adjunto de Neurocirurgia do Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas, Alexandre Amaral:
“O episódio inicial da dor é um sinal de alerta que o nosso corpo nos dá, ou porque estamos tensos, ou por alguma dilatação venosa na cabeça causada por um stress. Quando fazemos a automedicação e tomamos um analgésico estamos ignorando a mensagem que o nosso corpo estava dando de que algo não ia bem”, explica.
Segundo Amaral, este procedimento dá origem a uma série de doenças, entre elas, a chamada dor crônica. Ao ignorar o sintoma inicial da dor comum, que era apenas um sinal, abrimos espaço, com a automedicação, para ela se tornar uma patologia, pois adiamos a procura pela causa do primeiro incômodo. E os riscos oferecidos pelo consumo de analgésicos em excesso, vão além: depois de tomar uma determinada dosagem de remédiopor um tempo, ela deixa de fazer efeito e, naturalmente, a pessoa que sente dor e está acostumada a se automedicar passa a tomar uma dosagem maior da medicação. Se antes tomava um comprimido, passa a tomar dois, depois três. O que muita gente não sabe é que esse procedimento pode desencadear lesões estomacais e sangramentos, além de provocar náuseas e vômitos.
É o que aponta a pesquisa de Décio Chinzon, professor de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Os dados indicam que 41,2% das pessoas que procuraram o pronto-atendimento da USP, com dores de estômago, azia, vômitos, sangramento no intestino e lesões graves apresentavam estes sintomas devido à automedicação.
Não por acao, existe um tipo de dor de cabeça denominada cefaleia crônica diária que por muito tempo foi chamada de dor de cabeça por abuso de uso de analgésicos. Em 2011, o Dr. Alexandre Amaral realizou uma pesquisa com pacientes no Rio de Janeiro para averiguar como as pessoas tomam a decisão de se automedicar. De acordo com os resultados, 40% dos entrevistados se baseavam em prescrições anteriores; e 51% em sugestões de pessoas não qualificadas profissionalmente para fazer diagnósticos como amigos e farmacêuticos. A dor de cabeça foi a principal doença tratada com automedicação, seguida de infecções respiratórias como a gripe.
Em todo o mundo, antiinflamatórios e analgésicos simples como a dipirona, ácido acetilsalicílico e paracetamol são os mais consumidos; seguidos pelos antiinflamatorios não hormonais como o diclofenato potássico, que começam a ser controlados no Brasil pela exigência de apresentação da receita médica; e antirreumáticos como a nimesolina.
“A pesquisa mostra que o principal motivo para as pessoas não conseguiram se desfazer da automedicação é a falta de acesso à saúde, mesmo que elas tenham acesso ao plano privado. Isso, na minha interpretação, indica que falta uma boa conversa entre o paciente e seu médico, ou seja, que a motivação da dor não foi bem explicada ao paciente e, por isso, ele a trata com uma analgesia simples quando, na verdade, deveria tratar com prevenção. Além disso, a facilidade em adquirir estes remédios pode colaborar para o seu consumo exacerbado e suas consequências”, ressalta Alexandre Amaral.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os critérios utilizados para determinar os remédios que necessitam ou não de receita são científicos. Todos os anos, a agência atualiza a portaria 344, que define a lista dos medicamentos sujeitos a controle especial, com receita retida. Esse controle incide sobre medicamentos que causam dependência ou produzem efeitos no organismo que precisam ser bem monitorados, como a talidomida, capaz de alterar o desenvolvimento embrionário. E a fiscalização da retenção das receitas médicas para determinados medicamentos é feita em auditorias, por empresas privadas.
Para amenizar o problema, que assola não só os brasileiros, Amaral implantou no Rio de Janeiro um método, que segue a orientação mundial, chamado conversador. A ideia é educar o paciente e fazê-lo entender que a melhor forma de tratá-lo é entendendo o processo que gera sua dor.
“Além disso, fazemos um trabalho para sensibilizar as instituições municipais, estaduais e federais para que as pessoas saibam que a analgesia aumenta a cronificação da dor, e que é muito mais barato e eficaz prevenir as causas da dor crônica do que deixar os pacientes se empanturrarem de analgésicos simples”, reforça Amaral.
Para isso, ele indica um tratamento multidisciplinar que engloba acupuntura, fisioterapia, atendimento psicológico e medicamentos específicos (não analgésicos) para a eficácia da cura.
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