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Obesidade adultera as células da mama


Fonte: Correio Braziliense
Data de publicação: 20 de agosto de 2015

Pela primeira vez, cientistas detalham como a obesidade pode causar ou agravar o câncer de mama. O trabalho, publicado na revista Science Translational Medicine, descreve o processo celular que leva o tecido rico em gordura a promover o desenvolvimento de tumores. A descoberta confirma que o excesso de peso é um dos principais fatores de risco para o carcinoma que mais mata mulheres no mundo e serve de alerta, principalmente, para aquelas que passaram pela menopausa, condição que aumenta as chances de surgimento da doença.

Embora pouco compreendida, a relação entre a obesidade e o câncer de mama já era bem estabelecida pelos médicos. Mulheres que estão acima do peso são um grupo bastante representativo entre as pessoas que sofrem desse tumor e também tendem a apresentar os mais agressivos. Para compreender melhor esse fenômeno, pesquisadores estudaram amostras de tecido adiposo retiradas dos seios de pacientes e observaram como a obesidade influencia diretamente na matriz extracelular das mamas.

Foi possível notar que a estrutura que reveste e dá suporte às células havia sofrido um processo chamado fibrose, similar ao que ocorre durante a cicatrização. Se comparadas com o tecido mamário de pacientes de peso saudável, as células de mulheres obesas apresentaram fibras de colágeno mais grossas e endurecidas.

A inflamação causada pela obesidade havia deixado o tecido mais rígido, mudando completamente a configuração das células e a maneira como elas se comportam. Esse novo formato seria ideal para o desenvolvimento de cancros. “Os nossos dados mostram que o endurecimento dos tecidos de tumores e dos mamários é similar”, diz Claudia Fischbach, professora da Meinig School of Biomedical Engineering da Cornell University, nos Estados Unidos, e uma dos autores do trabalho.

Potencializador
Em testes in vitro, a equipe observou que células pré-cancerosas cultivadas em tecidos adiposos afetados pelo excesso de peso tinham uma tendência maior a desenvolver tumores malignos do que aquelas que cresciam em tecido magro. Isso indica que a obesidade pode não somente promover o surgimento de tumores, como também aumentar a agressividade da doença.

“Esse estudo fornece uma importante peça adicional que ajuda a integrar o que sabíamos sobre obesidade e câncer de mama em um cenário unificado”, ressalta Charlotte Kuperwasser, professora de biologia molecular e química na Tufts University School of Medicine e pesquisadora do Molecular Oncology Research Institute, ambos nos Estados Unidos. “Essa pesquisa fornece uma forma de olhar para esses mecanismos bem estabelecidos sob uma nova luz”, completa a especialista, que não participou do estudo.

A nova compreensão da relação entre gordura e câncer de mama poderia mudar, por exemplo, como são feitas as cirurgias de reconstrução de mama. O uso habitual de tecido adiposo para a modelagem do seio, ressaltam os autores do estudo, pode oferecer um risco às pacientes que já se recuperaram do tumor. “Implantar o tecido adiposo obeso pode ativar o câncer de mama residual depois da mastectomia e, assim, promover a recorrência”, acredita Fischbach. “Parece que materiais sintéticos para a reconstrução das mamas podem ser seguros e, portanto, poderiam ser usados como uma alternativa.”


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