Free cookie consent management tool by TermsFeed

Utilize o teclado para navegar, com Ctrl + nº da tecla

  Menu   Conteúdo   Busca   Lei Geral de Proteção de Dados   Acessibilidade
  Fonte Maior   Fonte Maior   Fonte Padrão
  Cor Original   Contraste
Notícias

Estudo mostra como veneno de vespa brasileira pode matar células de câncer


Fonte: O Globo
Data de publicação: 2 de setembro de 2015
Créditos: Cesar Baima

Um composto presente no veneno produzido por uma vespa nativa do Brasil tem o potencial de se tornar um poderoso aliado na luta contra o câncer, servindo de base para uma nova classe de medicamentos para combater a doença. Popularmente conhecida como “paulistinha”, a vespa da espécie Polybia paulista é comum no Sudeste do país. Agressiva, ela é responsável por muitos ataques na região, o que levou os cientistas a se interessarem no estudo de suas toxinas. E foi neste processo que eles encontraram a molécula, batizada MP1.

Com ação bactericida, a MP1 era originalmente usada pelos insetos para preservar as presas capturadas e armazenadas em seus ninhos, já que eles só se alimentavam delas vivas. Estudos recentes, no entanto, mostraram que a molécula também tinha a capacidade de atacar células cancerosas enquanto poupava as saudáveis. Este tipo de ação seletiva é considerado ideal para o desenvolvimento de tratamentos contra o câncer, e agora um novo estudo, com a participação de pesquisadores brasileiros, descobriu como a MP1 faz isso, abrindo caminho para que a própria molécula, ou versões sintéticas mais eficientes dela, sejam utilizadas em remédios contra a doença.

Em artigo publicado na edição desta semana do periódico científico “Biophysical Journal”, os cientistas relatam que a MP1 age abrindo buracos na membrana das células cancerosas, o que faz com que elas “sangrem”, perdendo proteínas e outras substâncias essenciais para sua sobrevivência e, assim, acabem morrendo. Este efeito citotóxico não chega a ser incomum, mas o detalhe é que a MP1 faz isso ao se ligar com dois lipídeos (moléculas de gordura) que células com alguns tipos de câncer — próstata e bexiga, assim como uma variante especialmente resistente a medicamentos da leucemia — expressam na parte externa de suas membranas, e que em células saudáveis permanecem “escondidos” na parede interna das mesmas. E é por isso que um medicamento que tenha como base este composto apresenta esse potencial de matar apenas as células doentes.
 
— Esta característica da MP1 de atacar só células doentes é muito interessante e é por isso que estamos tão animados — conta Mário Sérgio Palma, professor do Centro de Estudos de Insetos Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e um dos coautores da pesquisa. — Estamos mexendo com algo que pouca gente ousou mexer, tentando desenvolver uma droga que interfira com a parede e não com o núcleo das células cancerosas, o que já é alvo de muitas pesquisas. Isso vai servir de base para toda uma nova classe de medicamentos contra o câncer e também nos dá condições de driblar resistências, já que o modo como a membrana se forma é uma característica muito rígida dos organismos e é muito difícil sua estrutura mudar.

A animação de Palma é dividida por Paul Beales, pesquisador da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e colíder do estudo, e por João Ruggiero Neto, também da Unesp.
 
— Isso pode ser muito útil no desenvolvimento de terapias combinadas contra o câncer, em que múltiplas drogas são usadas simultaneamente para atacar diferentes partes das células cancerosas ao mesmo tempo — destaca Beales.

Segundo Palma, a ideia agora é manipular a estrutura da MP1 para ver se outros formatos da molécula se mostram mais eficientes no ataque às células cancerosas enquanto continuam a poupar as saudáveis, assim como avançar para experimentos com modelos animais para comprovar sua eficácia e segurança, até chegar a ensaios clínicos com seres humanos. Este processo pode levar muitos anos, mas já esbarra nas costumeiras burocracia e falta de recursos que afligem a ciência brasileira, lamenta o pesquisador:

— Já sabemos como devem ser as próximas fases da pesquisa e quanto isso deverá custar, só não sabemos se e quando teremos os recursos para isso.


topo